[Este relato foi extraído do livro "INCRÍVEL! FANTÁSTICO! EXTRAORDINÁRIO!", com edição do ano de 1951, o qual foi feito com base em
um programa da rádio com o mesmo nome e transmitido pela Tupi do Rio de Janeiro, entre os anos de 1947 e 1958, tendo sido criado por Henrique Foris Domingues, o "Almirante", que era o próprio locutor do programa de rádio, onde eram contadas histórias sobrenaturais enviadas pelo público, as quais eram analisadas quanto à sua veracidade, sendo somente aprovados após a análise realizada.
Este relato aqui publicado é uma homenagem à este ótimo programa radiofônico que fez muito sucesso em sua época, não deixando dessa forma que as lembranças de sua realização se apaguem com o tempo.]
Obs.: Algumas descrições de rotinas, dos costumes, da existência de comércios ou localidades estranhas aos dias atuais, e mesmo a maneira como os fatos foram descritos, são da época do ocorrido, o qual se passou entre as décadas de 1940 e 1950, quando existiam bares em estações, vias de terra e com matagais nas várias cidades do Brasil e outros costumes desconhecidos pelos mais jovens da atualidade
Naquela época já distante dos dias atuais a TV ainda estava no início, e o principal meio de distração das famílias era o rádio, onde geralmente todos se reuniam ao seu redor para ouvirem radionovelas, músicas e programas que atraiam os interesses de muitos ouvintes, como o "INCRÍVEL! FANTÁSTICO! EXTRAORDINÁRIO!".
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Este fato verídico aconteceu em Castelo, no Espírito Santo [Coordenadas GPS: Latitude / Longitude = 20°36'20.00"S, 41°12'13.00"W].
No dia 14 de março de 1946, meu pai, Manoel, saiu muito cedo de casa.
Ele ia levar à estação da Estrada de Ferro uma encomenda para uma pessoa da família, a qual era residente em Cachoeiro de Itapemirim (ES).
Não era a primeira vez que meu pai fazia tal coisa; freqüentemente, até, servia-se dos préstimos de um velho maquinista, seu conhecido, que se encarregava de fazer chegar as encomendas ao seu destino.
O trem, que era misto, partia às 5 horas e 30 minutos.
Tendo meu pai chegado à estação um quarto de hora antes, se dirigiu à locomotiva, mas vendo que não havia ninguém dentro, resolveu esperar que o amigo chegasse.
Decerto tinha ido tomar um café, pensou meu pai. Mas o tempo foi passando, 5, 8, 10 minutos.
Já estava na hora da locomotiva ir apanhar a composição, e nada do maquinista chegar.
Nisto ouviu-se o apito do manobreiro, ordenando que a máquina se pusesse em movimento, indo encostar-se aos vagões para o engate, preparando-se para a partida.
Meu pai, que conhecia o serviço, ainda pensou com seus botões:
- Vai ter que esperar que o maquinista chegue.
No mesmo instante, porém e com certo espanto, notou que a locomotiva começava a se movimentar, caminhando para a composição.
Depois ouviu aquele ruído surdo, tão característico do entrechoque dos engates dos vagões com a locomotiva, e viu a locomotiva voltar, vagarosamente, sem esperar sinal algum.
O manobreiro gritou:
- Êêêêê! Como é isto? Você ficou maluco, seu maquinista? Tem que esperar o sinal!
Volte que não engatou!
Mas a locomotiva foi seguindo para frente, sempre em marcha lenta, passou por meu pai e foi estacionar exatamente no local de onde havia saído.
O manobreiro veio correndo, para tomar satisfações:
- Então, como é? Isto é a casa da sogra, ou... Mas, ao subir os degraus da máquina, parou, meio desconsertado, murmurando:
- Diabo! Ou esta gente saltou sem eu ver... ou este negócio estava andando sozinho?
- e saiu ruminando palavras, enquanto voltava para o seu lugar.
Já passava das 5 horas e 30 minutos, sendo que nesse momento o maquinista, que por um motivo qualquer perdera o horário, chegava esbaforido.
Meu pai dirigiu-se a ele, a fim de lhe entregar a encomenda.
Viu, porém, que não era seu velho conhecido, e sim uma outra pessoa que subiu à máquina apressadamente, e tratou de cumprir sua obrigação.
Nisto aproximava-se o manobreiro, a quem meu pai perguntou:
- Maquinista novo?
- Sim, este peste, que me chega com quase 10 minutos de atraso!
- E o outro? o que eu conhecia?
- O outro? Pois não sabe? Morreu, coitado, há oito dias, num desastre na linha Coutinho-Alegre.
E ajuntou, suspirando: - Aquele sim! Era eu dar o sinal, e a locomotiva fazia logo o que tinha de fazer!
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Moacyr Carias
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